Espaços Litúrgicos das Igrejas







Igrejas novas – Igrejas velhas


De 2012 a 2015 celebramos os 50 anos do decurso do Concílio Vaticano II. Tem razão o Papa Francisco em enfatizar a necessidade de concretização do património deste concílio cujo ímpeto renovador de João XXIII esmoreceu sob os governos de João Paulo II e Bento XVI.

Neste contexto, tendo em mente os critérios das constituições Sacrosantum Concilium  (sobre a Liturgia) e Lumen Gentium, e do decreto Ad Gentes (sobre a actividade missionária da Igreja), não seria de esperar que aparecessem algumas das coisas que vemos repetir-se na prática das comunidades e das paróquias.

Refiro-me, hoje, à persistência de rotinas e práticas anteriores ao Concílio, evidente na dificuldade em transformar os espaços celebrativos, mais consentâneos com a visão de Igreja emergente da Lumen Gentium.

Nota-se:

1º Na construção de novas Igrejas e tratamento dos respectivos espaços litúrgicos;

2º Na Inculturação / contextualização cultural – ornamentação e outras artes (canto e dança...)

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Detenhamo-nos, por agora, sobre a configuração física dos espaços litúrgicos tanto das igrejas mais amplas das cidades como das humildes capelas rurais.

É normal e habitual, em qualquer parte do mundo, os condutores das celebrações (presidentes e/ou outros intervenientes) dizerem que “estamos reunidos à volta do altar do Senhor”. Mas, realmente, o “estar à volta” apenas o é psicologica, mental e espiritualmente.

Fisicamente, ninguém está “a volta”. O presidente, como na imagem ao lado, fica longe e de frente para a assembleia (por enquanto, dizem alguns..... pois já não faltam adeptos do volta-atrás, da missa de costas para o povo e virados para a parede!); a assembleia – fisicamente –, não estão “à volta” de coisa nenhuma. 
Mais parece que o padre e seus acólitos, estão no “palco” distante da “plateia” da assembleia. Ninguém vê a cara de ninguém, mas apenas a do presidente.

Mas será humanamente indiferente a disposição das pessoas e dos objectos numa celebração litúrgica? Tanto dá de uma maneira como de outra?

 Ainda não encontrei ninguém que contestasse o círculo como a referência ideal. Nesse sentido, desde o Concílio, já se fizeram imensas transformações e adaptações de igrejas pelo mundo fora. Umas mais duradoiras e de fundo, outras mais efémeras e passageiras, mas sempre com o intuito de fazer com que o espaço físico funcione como gerador de comunhão. 

Grupos mais pequenos sentados à volta de uma mesa! Grupos um pouco maiores, desarrumando capelas e dando-lhe uma disposição mais circular (às vezes até deslocando o altar quando isso o permite); de tudo isto já fui parte. 


Comunidade de Morua (Malatane)
Nas capelas de pau-a-pique, na Paróquia de N.Srª das Graças de Murrupula, não foi preciso muita catequese para os animadores, numa manhã de um domingo, depois de uma breve conversa de chegada e saudação, me surpreenderem. No pequeno intervalo preparatório do início da celebração, arrancaram todos os paus que suportavam os troncos dos assentos da assembleia, para fazerem a revolução e deslocarem o altar (que, felizmente, era uma mesa de madeira e não de adobes de terra) para um dos lados do rectângulo dispondo, depois, “os mesmos bancos”, à volta do altar. Pobres mas avançados! E a lição foi, na altura, passando de comunidade a comunidade! Eram os anos 80 da guerra civil!



Surpreende-me, por isso, quando, hoje, vejo gastarem-se rios de dinheiro a fazerem-se igrejas grandes para multidões, mas, como se o Concílio não tivesse acontecido, com um altar colocado lá no fundo (ou lá no cimo, como preferirem) de um enorme salão. E isto sob a liderança de missionários de 30-45 anos, aqueles que nasceram no pos-concílio!

Mesmo que se construam salões grandes, não custa nada dispor o espaço de forma que a assembleia fique  efectivamente, "à volta do altar", facilitando a proximidade e a comunhão (com Deus/Jesus que está no meio de nós, sua comunidade). Para criar espaços de sabor mais conciliar nem será preciso gastar mais dinheiro. O mesmo espaço pode ser utilizado de modo completamente diferente. Depende, obviamente, da VISÃO de Igreja que se traz no coração: a piramidal ou a comunitária?

Vejamos como é fácil:



O mesmo espaço rectangular, a configuração mais usual das nossas capelas e igrejas, em vez de ser disposto como este desenho, pode, com toda a facilidade, ser utilizado disposto colocando o altar do lado maior, como se indica abaixo.

"Instintivamente", as pessoas circundam o altar. Não custa nada.


E se, em vez de bancos corridos, se utilizarem bancos ou cadeiras individuais – sem esquecer as esteiras normalmente preferidas pelas mamãs de hábitos mais camponeses e que dão um atapetamento tão solene nas nossas capelas – ainda mais flexibilidade terá o arranjo do espaço..



Mais um reparo: nunca deixem pessoas de costas para o ambão enquanto se proclama a Palavra de Deus incluindo o santo evangelho e o padre, ou outro ministro, profere a homilia ou a partilha da Palavra. Também já vi disto, à mistura com muitas vénias, reveladoras de muito cerimonialismo vazio e de pouca sabedoria litúrgica. 



Igreja de Nossa Senhora dos Navegantes - Lisboa 2014



















Sugiro a quem puder que, por via internet ou passando por Lisboa, não deixe de visitar a recém-dedicada Igreja de Nossa Senhora dos Navegantes (zona da beira-Tejo onde decorreu a Expo98).

É um precioso exemplo revelador de que espírito são os pastores desta comunidade. Ou não será sssim?